Notícias do último Congresso Mundial de Esterilização no Brasil


No período de 30 de julho a 1º de agosto 2010, com cursos pré-congresso no dia 29 de julho, ocorreu o 11º Congresso Mundial de Esterilização, simultaneamente com 7º Simpósio Internacional de Esterilização e Controle de Infecção Hospitalar, organizado pela SOBECC (Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização).

Estiveram presentes neste evento mais de 2.900 pessoas, e dos 34 palestrantes, 21 eram internacionais. Foram apresentados 157 posters, com assuntos de alto valor para esta área. O evento contou também com 74 patrocinadores, dos quais a maioria participou do evento com stand, mostrando e lançando produtos voltados para a CME.

Nos lançamentos desta feira, as novidades foram na linha de detergentes, onde a 3M apresentou a sua linha de Multienzimático, a Steris trouxe para o Brasil o seu detergente alcalino concentrado e ultra-concentrado, e o retorno da linha de detergentes “Dr. Weigert” trazidos pelo seu representante Human SP.

Na área de equipamentos, alguns chamaram a atenção, como a Termodesinfectora/Ultrasonica Niagara da Medisafe, comercializada pela H.Strattner, a autoclave com tecnologia de esterilização por Ozônio da Ortosintese, a esterilizadora a vapor de peróxido de hidrogênio V-PRO da Steris, e a chegada no Brasil das esterilizadoras e termodesinfectoras da Belimed trazidas por seu represente LMG.

Além dos sistemas de rastreabilidade de instrumentais da Erwin Guth e B. Braun, o que mais chamou a atenção foi a quantidade de lançamentos de indicadores para monitoramento de ciclos de termodesinfecção. A Ruhof trouxe “ATP Complete®” que é um sistema que detecta a Adenosina Trifosfato (ATP), que é uma molécula de energia presente nas células de todos os animais, vegetais, bactéria, fungos e hifas. A 3M apresentou, além do seu “Clean Trace ATP”, similar ao da Ruhof, o “Clean Trace Surface Protein High Sensitivity” que basicamente é um swab que após a coleta sobre os instrumentais é colocado novamente na sua embalagem com reagente e incubado por 15 ou 45 minutos para a detecção de pequenas quantidades de proteínas através da mudança de cor do reagente. A Mack Medical, que não poderia ficar fora desta briga, trouxe o “Ninhydrin” da Browne, que também é um teste de proteína que possibilita detectar de forma rápida um amplo espectro de resíduos que por ventura possam permanecer nas superfícies dos materiais. Todos estes indicadores atendem as exigências das normas técnicas internacionais ISO 15883 e HTM 2030.


Quem não prestou atenção, não reparou no lançamento de um indicador que a CISA Brasile trouxe. Com nome comercial de “tAK” é um indicador com base em uma enzima, encontrada somente em rochas vulcânicas, cuja estrutura se assemelha ao Príon. O indicador é composto desta enzima, que ao término da termodesinfecção, é colocado em um leitor que utiliza o método de fluorescência para a leitura, que é obtida em 3 minutos, indicando se o processo de lavagem e termodesinfecção foi aprovado ou não, informando também a concentração remanescente da enzima para facilitar o monitoramento do desempenho do equipamento.

Na palestra “Vantagens da Limpeza Automatizada: Economia de Água/Sustentabilidade”, do palestrante Thomas W. Fengler, foi apresentando uma analise comparativa entre a lavagem manual e a automática, onde o volume utilizado de água por instrumental é praticamente o mesmo, porem na lavadora automática o processo é muito mais rápido. Ficou evidenciado também que somente o processo automatizado é validável. No módulo seguinte, “Validação de Limpeza: Novas Tecnologias para Limpeza”, do palestrante Klaus Roth, foi feito uma comparação de eficiência de limpeza automática utilizando detergentes enzimáticos e detergentes alcalinos. O estudo mostrou que em um processo de lavagem automatizado o detergente alcalino é muito mais eficiente na limpeza que o detergente enzimático, não havendo a necessidade da utilização dos dois detergentes em ciclo de lavagem/termodesinfecção. Outro fator mencionado foi com relação a qualidade da água, pois não existe lavagem/termodesinfecção correta sem uma qualidade adequada da água utilizada. O Klaus surpreendeu também ao afirmar, na opinião dele, que não existe indicador de ciclo confiável que reproduza a realidade de eficiência do processo de lavagem/termodesinfeção. Quando questionei quanto a utilização de um indicador para liberar o equipamento após uma intervenção técnica, ele me disse que o melhor seria fazer uma avaliação microscópica dos materiais processados ao invés de se utilizar um indicador. Infelizmente, devido ao tempo das apresentações, não pudemos discutir mais sobre este assunto, mas estarei em contato com o Klaus, e publicarei qualquer novidade sobre este tema.

Na palestra da Yahia L’Hocine, “Efeitos do Vapor em Instrumentos de Aço Inoxidável”, foi apresentado os resultados em instrumentais expostos a temperaturas elevadas em um ciclo de esterilização a vapor, onde além de danificar-los, começam a surgir micro fissuras que acabam acumulando mais “sujeira”. Ficou evidente que o conceito de super esterilizar os materiais para se ter certeza que não haverá contaminação, está na realidade favorecendo o aumento de pirogênio nos materiais, causadores de infecções em pacientes. A adoção dos ciclos a 134ºC tinha como objetivo acelerar o processo de esterilização, pois obtemos a mesma letalidade de um ciclo a 121ºC/20 minutos quando trabalhamos a 134ºC/1 minuto, reduzindo o tempo total de esterilização. As normas técnicas recomendam que o tempo mínimo seja de 3 minutos a 134ºC, mas temos encontrado em vários hospitais tempos acima de 5 minutos, que representa 100 minutos a 121ºC, onde a principal justificativa é de se ter maior confiança na esterilização. Por isso é importante validar o ciclo de esterilização e se adotar tempos de exposição que garantam o nível de esterilização requerido, sem danificar os materiais.

Em seguida falou a palestrante Michelle Alfa sobre “Reprocessamentos de Implantes: Discutindo a Realidade”, que também mostrou o impacto negativo nos implantes quando estes são submetidos a esterilização à alta temperatura por mais de uma vez, gerando fissuras, que passam a ser um local propício a presença de pirogênio. Ela mesma disse que este assunto requer mais estudos, porem o problema existe e não é para ser ignorado. Um slide que causou grande impacto foi que mostrou o resultado da análise onde ela coletou a concentração de pirogênio em um instrumental antes e depois do ciclo de termodesinfecção, onde no início havia uma concentração de 18 un e depois da lavagem subiu para incríveis 13.000 un. Este aumento foi devido à qualidade da água, que ela achava que era tratada (osmose reversa ou desmineralizada) e na realidade era direto da caixa d’água. Portanto mais uma evidencia de que sem o tratamento da água não há como garantir um processo de termodesinfecção confiável.

Ao termino do evento, chegamos a conclusão que a qualidade da água é fundamental para a garantia da qualidade requerida dentro da uma CME, que os indicadores de processo de termodesinfecção agora estão disponíveis no nosso mercado, e que o detergente alcalino com pH < 12 (não necessita de neutralizador) é mais indicado em lavagens automatizadas realizadas por termodesinfectoras.

Após o encerramento do evento, foi lançado o próximo congresso que será realizado no nosso querido Portugal, na cidade do Estoril, nos dias 12 a 15 de outubro de 2011. O pessoal da ANE (Associação Nacional de Esterilização Portuguesa) estará em breve publicando no site deles os detalhes para inscrição e hospedagem.

2 comentários:

  1. Aeee Paulo Laranjeira:

    Completo.


    Paulo César Pieroni
    Hemopharma Comércio & Representações Ltda.
    Campinas - SP

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  2. quando se fala em centro cirúrgico, fico muito empolgada amo a minha profissão, cuidar de cada material da central como se fossem utiliza-lós.TELMA NEIVA IMPERATRIZ-MA

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